Pr. Valmir Nascimento
A vida cristã é a expressão da graça de Deus. E a graça, como estamos habituados pelas Escrituras, inverte a nossa lógica e nos coloca diante de paradoxos. Enquanto o homem tenta ser Deus, pelo desejo de poder ou pela busca da eternidade, Deus se fez humano. O homem quer ser o Homo-Deus, mas Deus planejou ser o Deus-homem[1]. Essa é a mensagem maravilhosa do Evangelho: Deus, em Cristo, encarnou[2]e habitou entre nós, com o propósito de nos resgatar.
Mas a graciosidade do Evangelho vai além. Se não bastasse ter assumido a forma humana, Deus ainda quer e permite que o homem, apesar da sua finitude, se pareça cada vez mais com ele, e até mesmo seja o seu representante[3]nesta terra, pela reconciliação em Cristo, para que a sua vontade seja conhecida.
Uma das provas disso é que as Escrituras se referem a diversos personagens bíblicos como “homens de Deus”.
Apesar de suas falhas e limitações, tiveram a honra de receberam um título de afinidade e relacionamento com o Altíssimo. Em geral, essa locução se aplica àqueles que tiveram uma vida devotada, com fidelidade e obediência ao Senhor, mas sempre dependentes da sua misericórdia e generosidade.
No Antigo Testamento é uma referência aos santos do Senhor, como Moisés, Elias, Eliseu e outros profetas. O termo descreve o homem que recebeu um mandato especial do Senhor para representá-lo como líder ou mensageiro, capaz de expressar em vida pelo testemunho e ações o seu caminho e vontade. Em o Novo Testamento, “homem de Deus” refere-se a alguém que foi vocacionado para a obra (1Tm 6.11), mas a piedade e ética são as mesmas esperadas de todos os cristãos.
Embora todos os crentes devam mostrar em suas vidas as mesmas características espirituais e morais, como homens e mulheres de Deus, os ministros do Evangelho possuem maior incumbência de serem homens de Deus em todos os sentidos da palavra.
Por acaso, existiria designação no mundo mais honrosa e dignificante do que essa? Todos os títulos eclesiásticos são nobres, mas ser chamado de homem de Deus é algo especial. Não é simplesmente um ofício, mas uma condição de representante daquele que criou o mundo. Não se trata de um título, mas de uma posição espiritual de valor imensurável. Não indica uma função ministerial, mas um atributo de relacionamento.
Ser um homem de Deus é ter a sua natureza e propósito de vida conduzidos pelo Senhor; expressa uma humanidade dedicada aos propósito do Reino.
Contudo, quando nos conscientizamos do valor e da responsabilidade de ser um homem de Deus, os ofícios e as funções ministeriais ganham sentido, vigor e maior seriedade. Antes de qualquer coisa, obreiros, ministros do Evangelho, são homens de Deus!
É exatamente a inversão dessa ordem que acarreta uma série de prejuízos à obra, ao ministério e ao testemunho cristão, tanto no passado, quanto no presente. Por isso, não raro, nos deparamos com homens que são pastores e ministros, mas não são de Deus. Possuem o título, mas não tem a graça. Ostentam uma função ministerial, mas sem piedade. Segundo Ezequiel, são pastores de si mesmos (Ez 34.2).
Em nossos dias, devemos resgatar o sentido bíblico do chamado e da responsabilidade que essa expressão evoca. Imagine receber o mesmo tratamento que homens como Moisés, Elias, Eliseu, Davi e Timóteo.
Estamos conscientes do nosso papel de homens de Deus, hoje? As nossas prioridades e métodos ministeriais, nossos valores e forma de agir na obra dignificam a verdadeira vocação dos homens de Deus? Temos a convicção de que isso implica em ser o seu representante na terra, testemunhando ao mundo sua vontade com fidelidade?
Apesar de desconcertantes, estas perguntas são necessárias para nos levar de volta ao cerne do ministério cristão, a fim de reavaliarmos nossas prioridades e intenções. Para que o seu ministério seja frutífero e bíblicamente direcionado, o ministro cristão deve ter em sua mente e em seu coração ao menos três pressupostos: que ele é um homem de Deus, para Deus e com Deus.
Tais premissas apontam diretamente para três qualidades do exercício vocacional, enfocando sua origem, seus métodos e seus propósitos.
Em primeiro lugar, dizer que é homem de Deus compreende que sua chamada é divina e sua vida está nas mãos do Senhor. O obreiro há de ser um homem de Deus na sua identidade e na representação terrena do divino, como verdadeiro embaixador do Rei.
Em segundo lugar, é um homem com Deus. Isso significa que a sua vida, suas ações, decisões e estratégias são dirigidas e acompanhadas com o Senhor. Deus não somente envia, mas também caminha com o seu fiel ministro, dando-lhe força e guiando seus passos.
Em terceiro lugar, é um homem para Deus. Seu ministério não serve para o benefício próprio e muito menos se destina a causas estranhas ao Evangelho. Sua vida, sua família e seus projetos são do Senhor. O que significa que tudo o que resulta da obra volta-se também para Deus, como forma de adoração.
Devemos tomar consciência dos perigos que rondam o exercício ministerial, fazendo reacendar a chama da conviccção de que somos chamados sobretudo para sermos homens de Deus, o que nos leva a recordar a dignidade do ministério cristão.
Embora não sejamos, de nós mesmos, dignos e merecedores dessa designação, ou de qualquer outro título[4]eclesiástico, senão pela imerecida graça divina, temos a responsabilidade de zelar pelo bom (excelente) nome que nos foi atribuído, cumprindo com fidelidade e lealdade o nosso papel.
Em tempos nos quais a igreja tem sido confrontada e muitos têm vilipendiado as funções da santa vocação, dando péssimo testemunho no mundo, somos instados a servir com fidelidade e dignidade a Igreja de Cristo!
Referências:
[1] “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp. 2.5-8).
[2] “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14).
[3] “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus” (2Co 5.20).
[4] “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus” (1Co 15.9).
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